por Victor Lambertucci
Entre
as 6 razões, que Luiz Gonzaga Motta* lança mão, para endossar o estudo das
narrativas, percebe-se um esforço do autor de mostrar como esse tipo textual se
faz presente, em peso, no cotidiano comunicativo da nossa sociedade. O relato
de uma experiência, a argumentação para convencer alguém de alguma coisa, a
descrição de um perfil, uma conversa no ônibus, todas essas situações estão
carregadas do ato de narrar; o que é fácil de perceber, basta pensar em nossas
experiências individuais.
Mas o que mais instiga no texto de Motta,
é refletir não só sobre a constante participação das narrativas em nosso dia-a-dia,
mas em como existe por trás do narrar o que o autor classifica como uma atitude
intencional e argumentativa. Em outras palavras, Luiz Gonzaga nos chama atenção
para o fato de que a enunciação narrativa, por mais que seja algo natural, ao
ponto que é figurinha marcada no álbum do cotidiano, por assim dizer, reúne
também alguns parâmetros que a constroem, que lhe dão sentido. Esses atos
configurativos do narrar são fatores heterogêneos, como o agente ou a pessoa
que fala, os meios, intenções, circunstâncias, etc. Simplificadamente, isso
significa que uma mesma história contada por dois interlocutores diferentes
pode ganhar contornos distintos.
Essa
discussão do caráter construtivo da narração, traz-nos de volta a uma velha –
mas sempre atual – discussão acerca do jornalismo. A profissão que tem como
essência a busca pela verdade e objetividade, ou, em palavras mais claras, o
propósito vital de transmitir no texto jornalístico o que de fato aconteceu,
também é baseada em narrações do cotidiano. Mas não são as narrações carregadas
de intenção e dependentes de variáveis circunstâncias? Será possível então
retratar com fidelidade o fato, sem que ele ganhe contornos circunstanciais? De
fato, não. Ou, quem sabe, sim. Ou em um terceiro questionamento, será que não é
ambicioso demais dizer da verdade? Ao menos é uma verdade possível, carregada
de verossimilhança e que cumpre seu propósito ao ponto de informar e promover a
reflexão, trazer à luz, para fomentar a discussão.
* Luiz Gonzaga Motta é jornalista, mestre pela
Indiana University (USA), doutor pela University of Wisconsin (USA), estágio de
pós-doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha). É pesquisador do
CNPq, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (NEMP), do Núcleo
de Estudos da Narrativa (NENA) e professor da Universidade de Brasília, onde
desenvolve pesquisas sobre as narrativas jornalísticas, história do presente e
a construção social da realidade.



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